Análise estatística descritiva dos casos suspeitos e confirmados de COVID-19 no Município do Rio de Janeiro até 16/abril

Autor Allan Strougo

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Introdução

Devido ao contexto atual da pandemia do coronavírus (COVID-19) o seguinte texto tem como objetivo apresentar uma análise estatística descritiva dos dados relativos aos casos confirmados e suspeitos no Município do Rio de Janeiro (fonte: Secretaria Municipal de Saúde – RJ).

Análises

As análises foram realizadas a partir dos relatórios internos que alimentam o Painel Rio COVID-19. Nesse contexto, faz-se necessário apresentar as informações disponíveis e as limitações dos dados utilizados.

Informações e limitações

Os dados utilizados contêm informações sobre os casos confirmados e suspeitos de COVID-19 notificados entre 27/02/2020 e 17/04/2020. Essas informações incluem: unidade de saúde notificadora e data de notificação do caso, sintomas e data do início dos sintomas, município e bairro de residência ou estadia, área de planejamento (AP) de residência e de onde foi notificado o caso, idade, sexo, hospitalização, internação em unidade de tratamento intensivo (UTI) e necessidade de suporte ventilatório.

Além disso, há informações adicionais quanto a realização de viagens recentes e data de retorno para os casos confirmados e suspeitos notificados até o dia **24/03/2020**. Essas informações deixaram de ser relatadas quando as infecções passaram a ser comunitárias.

Em relação às limitações da análise, os seguintes pontos devem ser destacados:

  • A base de dados não está completamente preenchida, havendo informações omitidas em diversos casos suspeitos ou confirmados. Por esse motivo, nem todas as análises apresentam o número total de casos, mas sim o número de casos cujas informações em análise foram preenchidas.
  • Existem informações incoerentes devido ao preenchimento manual (por exemplo, data de início dos sintomas 28 dias após a notificação de suspeita pela unidade de saúde). Essas informações são expurgadas das respectivas análises.
  • As análises quanto à evolução do número de casos ao longo do tempo para os diferentes bairros não condizem com as evoluções apresentadas no Painel Rio COVID-19. A forma de contabilização utilizada no painel leva em consideração outras fontes de dados, e não aqueles disponibilizados e utilizados nessa análise.

Resultados

Evolução de casos no município do Rio de Janeiro

Ao todo, 2454 casos foram confirmados no Município do Rio de Janeiro. O Gráfico 1 abaixo apresenta a evolução de novos casos no município, enquanto o Gráfico 2 demonstra o crescimento do número total de casos ao longo do tempo. O Gráfico 3, por sua vez, apresenta os resultados dos bairros com 20 ou mais infectados.

 

 

Idade, gênero e internação

Além de análises de evolução ao longo do tempo e por bairro, também é possível obter dados quanto à maior ou menor incidência e gravidade da doença em relação ao gênero e idade dos infectados. Ao todo, 1279 dos confirmados com a doença são mulheres, 1123 são homens e 52 não foram informados. Além disso, a idade média dos portadores do vírus é de 49,38 anos.

O Gráfico 4 abaixo relaciona as variáveis gênero e idade e demonstra que todas as faixas de idade estão suscetíveis à doença, desde bebês com meses de idade até pessoas com mais de 90 anos. Entretanto, a maior parte das pessoas infectadas encontram-se na faixa de 30 a 60 anos.

Adicionalmente, há indícios significativos de que a média de idade dos homens contaminados seja superior à das mulheres (o valor p para um teste t da média dos dois grupos é de 2,22×10^{-6}, rejeitando-se a hipótese nula de diferença zero entre as médias sob um intervalo de confiança de 95%).

O Gráfico 5, por sua vez, relaciona a idade dos pacientes à condição de internação na UTI. Nesse caso, percebe-se que a maior parte das pessoas internadas possuem idade mais avançada, apesar de existirem pessoas contaminadas acima dos 60 anos que não tiveram necessidade de internação na UTI. Nesse caso, o valor p do teste t para a comparação de médias é de 8,66×10^{-18}, rejeitando-se a hipótese nula de diferença zero entre as médias sob um intervalo de confiança de 95%.

Avançando nessa discussão, os Gráficos 6 e 7 apresentam as relações entre gênero, idade e internação na UTI ou hospitalização, respectivamente. Em ambos os casos, percebe-se que as pessoas contaminadas supostamente mais graves (internados ou hospitalizados) concentram-se em faixas etárias mais avançadas. Além disso, em ambos os casos, o grupo masculino apresenta uma menor variação de idade entre os internados ou hospitalizados do que o grupo feminino.

 

Notificações dos casos

Outro fator importante a se analisar é o número de notificações de casos confirmados por unidades de saúde e o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a notificação, apresentados nos Gráficos 8 e 9, respectivamente. Neles, é possível observar a predominância de casos confirmados notificados pelo Laboratório Richet, além de que as notificações costumam ocorrer na primeira semana contada a partir da data de início dos sintomas. Entretanto, alguns casos levaram mais de 15 dias para serem notificados.

Disseminação local e importada

Uma análise adicional da evolução dos casos consiste na identificação de transmissão local e de casos importados, ou seja, a separação entre os infectados que viajaram dos que permaneceram no país. Essa análise pode ser feita através dos Gráficos 10 e 11, os quais apresentam os casos novos e o total de casos por dia, respectivamente.

A partir do Gráfico 10, observa-se o início da contaminação a partir de pessoas que retornaram do exterior recentemente e, poucos dias depois, a notificação de casos de pessoas que não realizaram viagens. Esse tempo entre as “ondas” de contaminação é mais bem observado no Gráfico 11, sendo 4 dias o tempo entre o registro do primeiro caso importado e o primeiro caso local de contaminação.

Sintomas predominantes

Como última análise, o Gráfico 12 abaixo destaca os sintomas predominantes em pessoas contaminadas, sendo o principal destaque a febre. Poucos casos relataram desconforto respiratório em comparação à febre. Nesse contexto, apenas 144 casos confirmados necessitaram de ventilador. No entanto, o número de casos sem informação quanto ao uso de ventilador (2005) impossibilita qualquer inferência.

 

Autor

Allan Dominguez Strougo

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1085896456830791

 

Coordenação do LEGOS|UERJ

Profa Thaís Spiegel, DSc. | thais@eng.uerj.br

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8880192361495671

 

 

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