Como projetar uma cadeia de suprimentos em um contexto de eventos de ruptura?

Desdobramentos da pandemia do COVID-19

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Nota divulgada em 27/03/2020

Os impactos do novo coronavírus (COVID-19) possuem repercussões econômicas assimétricas, gerando efeitos que ressoam no espaço e no tempo conforme o grau de sensibilidade e vulnerabilidade macroeconômica dos países e microeconômica das cadeias globais de produção e consumo[1].

Entendendo a pandemia como um evento de ruptura a nível global, o LEGOS propõe duas fases para os ajustes na cadeira de suprimentos de saúde: (1) construir modelos de previsão de demanda de casos de COVID-19 e dimensionamento de recursos necessários para os atendimentos e (2) reprojetar a cadeia de suprimentos para garantir disponibilidade desses recursos nos equipamentos de saúde.

Projeções e dimensionamento de recursos

Esta etapa tem como objetivo antecipar os cenários de expansão da pandemia e a quantidade de recursos necessários para cada cenário, com intuito de garantir atendimento à população e condições de trabalho aos profissionais de saúde, além de cumprir os preceitos legais da administração pública de eficiência e economicidade. Esta etapa é dividida em 2 partes:

  • Avaliar os dados históricos e construir projeções para os casos confirmados de COVID-19 no horizonte de curto prazo;
  • Dimensionar recursos necessários a partir dos resultados das projeções.

Por recurso, podemos entender tudo que é necessário ao atendimento do paciente com suspeita de COVID-19. Há diferentes naturezas de recursos, como: recursos humanos, máscaras, kits de teste, respiradores, leitos, entre outros.

Em alguns casos, é possível estabelecer uma conversão direta entre casos confirmados no cenário previsto e recursos, como, por exemplo, no caso dos kits de teste. Entretanto, o cerne deste problema está em quando disponibilizar recursos que podem ser usados continuamente na contenção desta pandemia (leitos, respiradores e profissionais de saúde, por exemplo) e como  gerenciá-los.

Para responder a esta questão, é necessária a disponibilização das informações listadas na tabela abaixo, para a construção dos produtos associados a cada uma.

Informações necessáriasProjeto
  • Evolução do total de casos confirmados por município e, se possível, por bairro.
  • Previsão do total de casos esperados em cenários diferentes. Se a estratificação de bairros por município for possível, usar esta informação para apoiar itens da estratégia de localização comentada na próxima seção.
  • Quantidade de leitos total ou estratificada (por enfermarias, CTI, entre outros) para atendimento de pacientes com caso confirmado de COVID-19 por município;
  • Jornada de trabalho dos profissionais / disponibilidade dos profissionais (ex.: 12 por 36, 12 por 48);
  • Quantidade de materiais e equipamentos necessários para o tratamento do paciente e proteção dos profissionais de saúde.
  • Estimativa da capacidade atual de cada município para atendimento de pacientes com caso confirmado de COVID-19.
  • Tempo de internação dos pacientes com caso confirmado de COVID-19 por município (preferencialmente por unidade de saúde). Se possível, discriminando tempo de internação em unidade fechada (CTI) e tempo de internação em enfermarias.
  • Estimativa do tempo de tratamento hospitalar de cada município para atendimento de pacientes com caso confirmado de COVID-19;
  • Estimativa da quantidade de leitos necessários por tipo para cada município.
  • Níveis de estoque de materiais e equipamentos necessários para o tratamento do paciente e proteção dos profissionais de saúde por unidade de saúde ou por estado.
  • Estimativa da necessidade atual de cada município para atendimento de pacientes com caso confirmado de COVID-19

É importante ressaltar que a indisponibilidade de alguma(s) destas informações implicará na adoção de premissas que podem não condizer com a realidade de cada município ou na impossibilidade de continuação do estudo.

Projeto da cadeia de suprimentos

O projeto da cadeia de suprimentos contempla quatro grupos de decisões, conforme a figura abaixo[2]. A decisão do nível de serviço a ser prestado orienta as decisões nas outras três frentes (estoques, transporte e localização), que devem ser tomadas articuladas entre si. Há trade-offs envolvidos nessas decisões. Por exemplo, um nível de serviço mais elevado eventualmente envolverá um número maior de locais de estocagem e serviços de transporte mais caros. Em sequência à figura, serão detalhados, para cada grupo de decisão, as premissas (informações que precisam ser disponibilizadas) e os desdobramentos e soluções de projeto propostas.

Objetivos de serviço ao cliente

Informações necessárias
  • Definição do nível de serviço entregue para a ponta
  • Tipos e quantidades de materiais nos equipamentos de saúde — Atenção Primária, UPA e hospitais
    • Prazo de ressuprimento para cada equipamento
  • Taxa de consumo de cada recurso na ponta
  • Restrições orçamentárias para a rede logística

Estratégia de localização

Informações necessáriasProjeto
  • Onde estão localizadas as empresas fornecedoras?
  • De onde partem as doações em produtos?
  • Quais são os pontos que receberão insumos na ponta, e onde estão localizados?
  • Há instalações que sejam utilizadas atualmente como centros de distribuição intermediários? Onde estão localizadas?
  • Quais instalações atualmente sob controle do estado podem ser convertidas em centros de distribuição intermediários? Onde estão localizadas?
  • Quantidade de instalações;
  • Tamanho necessário das instalações;
  • Localização das instalações nos municípios do estado.

 Estratégia de estoque

Informações necessáriasProjeto
  • Quem são os responsáveis por disparar as compras?
  • Quais marcos institucionais regem as compras no contexto da contenção do COVID-19?
  • As unidades irão trabalhar com estoques de segurança? Para quais insumos?
  • Definição do marco que dispara o processo de distribuição para a ponta;
    • P. ex., se disparado sob demanda da ponta ou com base em regras pré-definidas referentes aos níveis de estoque;
  • Definição do marco que dispara o processo de distribuição para os centros de distribuição;
  • Consolidação dos estoques comprados e doados;
  • Volume dos estoques de segurança, quando houver.

Estratégia de transporte

Informações necessáriasProjeto
  • Há alternativas ao modal rodoviário para a realização de entregas?
  • Na entrega de insumos em condições normais, que meios de transporte são utilizados?
  • O estado dispõe de frota própria? É possível considerar a contratação de terceiros para a realização de entregas?
  • Modais de transporte a serem adotados;
  • Volumes dos embarques;
  • Rotas de entrega; e
  • Programação das entregas

 

Autores:

Ana Carolina Vasconcelos
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0065556144974235

Daniel Bouzon
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0258423859812498

Luana Ramos
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4379840548786456

Rafael de la Vega
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9104034533818397 

Thiago Klojda
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1226846513452195

 

Coordenação do LEGOS|UERJ: Profa Thaís Spiegel, DSc. | thais@eng.uerj.br
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8880192361495671

[1] SENHORAS, Eloi Martins. “Novo coronavírus e seus impactos econômicos no mundo.” Boletim de Conjuntura (BOCA) 1.2 (2020): 39-42.

[2] Ballou, R. H. (2009). Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: Logística Empresarial. Bookman Editora.

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