Análise estatística descritiva dos casos suspeitos e confirmados de COVID-19 no Município do Rio de Janeiro até 11/05

Autor Allan Strougo

Baixe aqui o texto completo.

Introdução

Devido ao contexto atual da pandemia do coronavírus (COVID-19) o seguinte texto tem como objetivo apresentar uma análise estatística descritiva dos dados relativos aos casos confirmados e suspeitos no Município do Rio de Janeiro (fonte: Secretaria Municipal de Saúde – RJ[1]).

Análises

As análises foram realizadas a partir dos dados públicos (acesso livre) que alimentam o Painel Rio COVID-19 e de relatório de pacientes com SRAG (síndrome respiratória aguda grave), de acesso restrito, enviado pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Nesse contexto, faz-se necessário apresentar as informações disponíveis e as limitações dos dados utilizados.

Informações e limitações

Os dados públicos contêm informações sobre os casos confirmados de COVID-19 notificados até o dia 11/05/2020. Essas informações incluem a data de notificação do caso, o bairro e a Área de Planejamento (AP) de residência, a data de início dos sintomas, o gênero, a faixa etária e a evolução da pessoa infectada (ativo, recuperado ou óbito)

Os dados dos relatórios de SRAG contém as informações de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (não necessariamente por COVID-19) repassadas pelas unidades notificadoras. Dentre os dados existentes, encontram-se as datas de notificação, início dos sintomas, internação, nascimento e desfecho do paciente, a unidade de internação, o tipo de internação (CTI adulto ou enfermaria, por exemplo), a classificação final (COVID-19 ou outros vírus, por exemplo), a evolução e o tempo de internação. Por não ser de acesso público, apenas são reportados nesta nota técnica os dados até a data de 08/05/2020.

Em relação às limitações da análise, os seguintes pontos devem ser destacados:

  • A base de dados não está completamente preenchida, havendo informações omitidas em diversos casos suspeitos ou confirmados. Por esse motivo, nem todas as análises apresentam o número total de casos, mas sim o número de casos cujas informações em análise foram preenchidas.
  • Existem informações incoerentes devido ao preenchimento manual (por exemplo, notificação 1 ano após o início dos sintomas). Essas informações são expurgadas das respectivas análises.
  • As análises quanto à evolução do número de casos ao longo do tempo para os diferentes bairros não condizem com as evoluções apresentadas no Painel Rio COVID-19. A forma de contabilização utilizada no painel leva em consideração outras fontes de dados, e não aqueles disponibilizados e utilizados nessa análise.

Resultados

Evolução de casos no município do Rio de Janeiro

Considerando todos os casos do município do Rio de Janeiro, percebe-se um crescimento exponencial do número de casos, alcançando mais de 10.000 infectados. mas com um achatamento da curva nos últimos dias. Esse achatamento não indica uma melhora no contexto da pandemia no município devido às subnotificações.

Além disso, é possível comparar a disseminação do vírus entre as áreas de planejamento para entender melhor o impacto de cada AP no estado atual do município. Para isso, é necessário considerar os dias de infecção, visto que a contaminação teve início em diferentes datas.

A partir do gráfico abaixo, percebe-se que a AP 2.1 apresentou um comportamento mais “explosivo”, alcançando um maior número de casos do que nas demais áreas quando se considera o mesmo número de dias de contágio. Ademais, atenta-se para a grande quantidade de casos listados como “AP INDEFINIDA”, identificando uma fragilidade dos registros.

A mesma análise pode ser feita para os bairros do município. O gráfico abaixo considera os bairros da AP 2.1, onde percebe-se um crescimento mais acelerado do bairro de Copacabana, seguido de Botafogo.

Idade e gênero

Em relação à contaminação segundo idade e gênero, os gráficos abaixo demonstram um maior número de mulheres contaminadas e de pessoas entre 30 e 50 anos, apesar de também haver crianças abaixo dos 10 anos contraindo a doença.

Nesses gráficos, atenta-se para o fato da soma dos casos por faixa etária ou por gênero não coincidir com o total de casos apresentado anteriormente. Isso ocorre pela existência de dados omitidos (não reportados).

Tempo entre sintomas e notificações

Além das informações acima, os dados públicos fornecem as datas de início dos sintomas e de notificação por uma unidade de saúde. Dessa forma, é possível visualizar dois cenários nos dois gráficos abaixo:

  1. Casos notificados após o início dos sintomas, com a grande maioria sendo notificada em até 2 semanas, mas com situações em que a notificação ultrapassou o período de 1 mês.
  2. Casos notificados antes do início dos sintomas, sendo o mais provável no caso de pessoas assintomáticas, mas suspeitas por terem tido contato com outros suspeitos ou confirmados.

O gráfico abaixo apresenta a junção dos gráficos acima, de forma que valores negativos representam casos notificados antes do início dos sintomas.

Casos e óbitos de pacientes com SRAG por COVID-19

Até o momento, todas as análises utilizaram exclusivamente os dados públicos disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde. A partir desta seção, faz-se referência às informações de casos de SRAG reportadas até o dia 08/05/2020.

O gráfico abaixo apresenta a evolução do número de casos e de óbitos considerando apenas os casos de SRAG com contaminação por COVID-19 confirmada.

O número de contaminados com SRAG aproxima-se da faixa de 1000 casos, ou seja, aproximadamente 10% do total de infectados pela COVID-19 reportados pelo município.

Além disso, destaca-se uma mortalidade elevada e crescente, a qual pode ser melhor observada através do gráfico abaixo. Nele, nota-se que a letalidade (número de óbitos sobre casos confirmados) tem crescido quase que linearmente ao longo do tempo.

Ainda em relação ao volume de confirmados e de óbitos, uma análise dos casos novos por dia (gráfico abaixo) permite observar que o crescimento do número de casos confirmados ao longo da segunda metade de maio teve como resultado o aumento do número de óbitos na primeira metade de abril.

Esse comportamento pode ser explicado pelo tempo necessário para o surgimento e agravamento dos sintomas até o óbito. Dessa forma, um aumento de casos hoje apresentará um impacto na mortalidade em, aproximadamente, 15 dias.

Internação de pacientes com SRAG por COVID-19

Avaliando o tempo de internação dos pacientes com SRAG e COVID-19 confirmada, percebe-se que, para CTI Adulto, o período de internação varia entre 0 e superior a 30 dias, mas com maior ocorrência de internações entre 3 e 10 dias, aproximadamente.

Os demais locais de internação apresentam menos dados, mas aparentam ter um tempo de internação menor ou igual do que no CTI, com exceção da unidade semi-intensiva (USI).

Por fim, o gráfico abaixo apresenta o número de indivíduos internados por tipo de instituição (privada, municipal, estadual etc.).

[1] Relatórios internos que alimentam o Painel Rio COVID-19, disponível em https://experience.arcgis.com/experience/38efc69787a346959c931568bd9e2cc4

Autor

Allan Dominguez Strougo
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1085896456830791

Coordenação do LEGOS|UERJ
Profa Thaís Spiegel, DSc. | thais@eng.uerj.br
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8880192361495671

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